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04 de jun. de 2025 às 00:00  •  6 min de leitura
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Diretriz para tratar obesidade aborda uso racional de remédios
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Diretriz para tratar obesidade aborda uso racional de remédios

Documento orienta médicos, gestores e especialistas em áreas distintas



O universo da Saúde acaba de testemunhar uma mudança de paradigma essencial no Brasil: a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) lançou a nova Diretriz Brasileira para o Tratamento Farmacológico da Obesidade. Este documento não é apenas uma atualização, mas um marco que reconhece a Obesidade como uma Doença Crônica que exige atenção contínua e uma abordagem verdadeiramente individualizada (Fonte: Abeso).

Com 35 recomendações claras, a diretriz serve como um guia vital para Médicos, gestores de Saúde e profissionais de diversas especialidades, orientando o uso adequado de medicamentos sempre em conjunto com mudanças no estilo de vida. "É uma mudança de paradigma. O objetivo não é mais apenas normalizar o peso, mas sim promover saúde, funcionalidade e qualidade de vida com metas possíveis e sustentáveis", explica o Endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso.


O FIM DA TIRANIA DO IMC? Nova Visão Prioriza SUA Qualidade de Vida

Uma das principais propostas desta nova diretriz é a adoção de metas mais realistas e clinicamente relevantes. Esqueça a obsessão por um Índice de Massa Corporal (IMC) "normal". Agora, o foco é a perda de, ao menos, 10% do peso corporal, com um olhar atento para a melhoria de Comorbidades como Diabetes Tipo 2, Hipertensão, Apneia do Sono, Osteoartrose e Doença Hepática associada à disfunção metabólica.

Ao contrário de abordagens anteriores, que miravam exclusivamente a normalização do IMC, a nova diretriz prioriza a funcionalidade, a qualidade de vida e, acima de tudo, a individualização do tratamento. Segundo o Endocrinologista Fernando Gerchman, coordenador do grupo de trabalhos para a elaboração do documento, este é um guia clínico "construído com base em evidências e voltado à realidade brasileira, que respeita a individualidade do paciente e valoriza a decisão compartilhada".


Novas Ferramentas, Novas Perspectivas: O Avanço da Farmacologia

A diretriz anterior, de 2016, já não refletia a realidade das inovações farmacológicas. Gerchman esclarece: "De lá para cá foram lançadas três novas medicações para obesidade no Brasil: liraglutida, que é o Saxenda; o Contrave e o Wegovy que é igual ao Ozempic mas na dose da obesidade que é 2,4mg. E agora vem o Monjauro". Essas novas opções ampliam o arsenal terapêutico para os Médicos e os pacientes.

Uma das grandes novidades é a flexibilização da indicação de medicamentos. Anteriormente, a medicação era recomendada apenas após tentativas de mudança no estilo de vida. Agora, “a gente tem indicado medicações para obesidade antes de mudanças no estilo de vida em decisão compartilhada com o paciente. A gente leva em consideração não só o IMC mas medidas de adiposidade corporal excessiva”, afirmou Fernando Gerchman.

As medicações foram categorizadas por eficácia, segurança e duração do tratamento, e a diretriz também aborda o uso off-label (uso de um medicamento não aprovado especificamente para Obesidade, mas com evidências clínicas de eficácia e segurança). "O uso dessa estratégia deve ser individualizado, levando em conta fatores como a saúde geral do paciente, a presença de comorbidades e a resposta prévia ao tratamento. Além de considerar a segurança, a tolerabilidade e a questão do custo”, afirmou o coordenador do Departamento de Farmacoterapia da Abeso, Marcio Mancini.


Estilo de Vida e Evidências Científicas: A Dupla Infalível

O documento é claro: o tratamento medicamentoso deve ser associado, desde o início, às mudanças no estilo de vida. Medicamentos de alta ou moderada eficácia – como semaglutida, tirzepatida e liraglutida – devem ser priorizados quando disponíveis. "Esses fármacos demonstraram benefícios significativos em grandes ensaios clínicos. A semaglutida, por exemplo, reduziu em 20% os eventos cardiovasculares em pacientes com obesidade e histórico de doença cardíaca. Já a tirzepatida mostrou, em estudo com pessoas com pré-diabetes, uma redução de 99% na incidência de diabetes tipo 2”, afirmou o diretor da Abeso, Alexandre Hohl.

A diretriz também inova ao recomendar que as decisões sobre o tratamento da Obesidade levem em consideração "fenótipos alimentares", ou seja, padrões de comportamento alimentar e preferências individuais, dando atenção a fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais. "Identificamos que, ao classificar pacientes com base em comportamentos alimentares, conseguimos oferecer um tratamento mais direcionado e eficaz”, disse Gerchman.


Grupos Específicos e a Continuidade do Cuidado


O novo documento reconhece que alguns grupos demandam atenção diferenciada, como Idosos com Sarcopenia (perda de massa muscular), pessoas com Câncer relacionado à Obesidade e indivíduos com Insuficiência Cardíaca. Nesses casos, o tratamento da Obesidade pode não só melhorar a Qualidade de Vida, mas também ampliar a eficácia de outras terapias e reduzir complicações.

A diretriz é categórica ao contraindicar fórmulas com substâncias não validadas ou potencialmente perigosas, como diuréticos e hormônios, e alerta: o tratamento da Obesidade deve ser contínuo. “O que os estudos mostram é que, quando o medicamento é interrompido, o peso volta. A diretriz reconhece isso e recomenda a manutenção terapêutica com reavaliação constante”, explica Marcio Mancini.


Principais Destaques da Nova Diretriz:

  • Tratamento Contínuo e Individualizado: A perda de pelo menos 10% do peso é um alvo clínico relevante, focando na melhora de comorbidades e qualidade de vida.
  • Novos Critérios de Diagnóstico: Recomenda tratamento de pacientes com complicações relacionadas à Obesidade mesmo com IMC abaixo de 30, considerando medidas como circunferência da cintura e relação cintura/altura.
  • Reconhecimento de Grupos Específicos: Pacientes Idosos, pessoas com Obesidade sarcopênica, Apneia do Sono, Osteoartrose e Doença Hepática associada à Obesidade agora têm recomendações específicas.

Construída com base nas melhores evidências científicas e em consenso com 15 sociedades médicas (Fonte: Abeso), esta diretriz representa um avanço significativo para a Saúde no Brasil, oferecendo um caminho mais eficaz e humano para o manejo da Obesidade.


Para o paciente: Como acessar o tratamento da Obesidade pelo SUS?


Se você busca tratamento para Obesidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS), saiba que o processo envolve alguns passos importantes, que incluem desde a atenção primária até serviços especializados.

Passo 1: Procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Este é o ponto de partida. O clínico geral ou Enfermeiro da UBS fará uma avaliação inicial, verificará seu IMC e histórico de saúde, e poderá iniciar orientações sobre alimentação saudável e atividade física.

Passo 2: Acompanhamento multiprofissional. A UBS pode oferecer grupos de apoio para reeducação alimentar e prática de exercícios. Você poderá ser encaminhado para Nutricionistas, Educadores Físicos ou Psicólogos que atuam na rede pública, dependendo da necessidade.

Passo 3: Encaminhamento para especialistas, se necessário. Se o caso for mais complexo ou houver Comorbidades que exijam atenção especializada, o profissional da UBS fará o encaminhamento para um Endocrinologista, Cardiologista ou outro Médico especialista em centros de referência ou hospitais que possuam atendimento de Obesidade no SUS.

Passo 4: Avaliação para tratamento medicamentoso ou cirúrgico. Após avaliação com o especialista, e seguindo as diretrizes clínicas, poderá ser indicada a medicação (se disponível e pertinente) ou, em casos específicos, a cirurgia bariátrica. Para a cirurgia, há critérios rigorosos e uma fila de espera, exigindo acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.

Lembre-se: O tratamento da Obesidade pelo SUS prioriza a abordagem integral e contínua, visando à melhoria da sua qualidade de vida e da sua saúde geral.




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